terça-feira, 8 de julho de 2014

EU, DA POLTRONA - O significado amargo de "fomos tarde"

Cláudio Messias*

Você, raro e exceto leitor, é testemunha de minha ausência por esses dias de disputa do Mundial de futebol no Brasil. Bendito foi o momento em que mudei-me de apartamento (e de região da cidade, em Campina Grande), fique sem internet e forçadamente rompi o protocolo de acordos de colaboração para falar sobre meu pessimismo sobre a Seleção canarinho. Ainda assim, o pouco que postei ainda causou indignação, principalmente de brasileiros que, fora do continente americano, viviam mais arduamente a utopia do melhor futebol do planeta.

Sim, errei em meus prognósticos. No primeiro bolão em que entrei furei 60% dos resultados que chutei na Primeira Fase da Copa. Não tinha dúvidas, contudo, que o Brasil passaria para as Oitavas. Apenas apostei, errado, na Croácia, que continua, a meu ver, em condições de ter feito mais que o México no decorrer do torneio. Mas, isso é um passado mais longínquo e menos tenebroso do que as últimas horas para a história do futebol brasileiro. Estou citando isso, apenas, para ratificar o que venho dizendo desde as Eliminatórias: a Alemanha é, hoje, a melhor Seleção do planeta.

Tivesse a Fifa mudado o regulamento e a política de hospitalidade e valorização do anfitrião e a Seleção Brasileira sequer teria, sob o comando de Felipão, classificado para a Copa que o Brasil hoje sedia. Desde 2002 que digo que o nosso quinto título mundial foi trazido por Ronaldo e Rivaldo, contrariando a vontade de Felipão. Esse técnico é muito ruim, e sempre foi. Construiu uma história no Palmeiras, todos sabemos, mas também determinou o caminho desse meu rival rumo ao segundo rebaixamento, juntamente com Murtosa. Mas, criticar técnico da Seleção é muito fácil; quero ver convocar um time, treiná-lo com suas vaidades e leva-lo ao apogeu do universo boleiro. Nada demais, pois é isso o que o comedor de nhaca de nariz está fazendo com o elenco alemão, e há 6 anos.

Nesse momento, os 65 mil torcedores que vaiaram e hostilizaram Dilma na abertura da Copa, no meu Itaquerão, devem um pedido de perdão. Quem tinha de ser mandado tomar no c* é Felipão. Só que naquele momento a utopia do hexa era mais forte. Melhor atingir quem investiu na infraestrutura da Copa, viabilizou o maior e melhor torneio de toda a história, a colocar em xeque o trabalho de um técnico que foi campeão da Copa das Confederações, aquele torneio que só perde em importância para o campeonato de Solteiras x Casados, realizado, via de regra, em dezembro, sob muita cachaça.

Ninguém viu, mas a Seleção, a cada vez que entrou em campo, começou os jogos perdendo por 1x0. Perdia para as demais seleções que, como a Alemanha, mantiveram, desde antes da Copa de 2010, um planejamento. Ricardo Teixeira pode ser o que for, e o é, mas num momento de ausência de soberba e imperialismo, tirou Mano Menezes do Corinthians, segunda opção a Murici Ramalho, e iniciou o planejamento da Copa de 2014, no Brasil. Mano ganhou autonomia para iniciar a renovação de uma Seleção recém-eliminada pela Holanda, na África do Sul, sob iguais questionamentos sobre a competência de um treinador, naquela ocasião, Dunga.

Mano só não convocou a mim para jogar e, assim, testar a Seleção. Na busca pela renovação, filtrou craques. Primeiro, ouviu o clamor nacional pelo nome de Neymar. E foi coerente, pois Neymar, sob o comando de Mano, tinha a seu lado o jogador que igualmente debutou para o universo futuros dos melhores do mundo na arte de jogar futebol, ou seja, Ganso. No ataque, Hulck, Leandro Damião, Pato, assistidos por Ronaldinho Gaúcho, Lucas e Kaká. Desses, só Neymar e Hulck foram para a Copa. E as opções de banco mostraram, até hoje, o fraco Bernard e o péssimo Jô, que até brilharam pelo Atlético Mineiro campeão da Libertadores de 2013, só que comandados por um Ronaldinho Gaúcho preterido por Felipão.

A troca de Mano por Felipão é de inteira responsabilidade de José Maria Marin. Parte da quadrilha da CBF, ele quis dar pompas de honestidade ao trocar os treinadores e, assim, tentar, em vão, apagar a relação hierárquica e corruptamente genética que tem com Ricardo Teixeira, o capitão do time que o levou à Confederação. Não canso de relembrar o episódio público mais impactante de Marin, qual seja, o furto de uma medalha da Copa São Paulo de Futebol Jr., quando integrava a diretoria da Federação Paulista de Futebol. Aliás, por coincidência, Marin está sendo sucedido, na CBF, por Marco Polo Del Nero, que presidiu a eternamente suspeita FPF durante longo império.

Marin tirou Mano e colocou Felipão, anunciando o retorno do treinador como salvação do trabalho que visava dar ao Brasil o hexa, dentro de casa, corrigindo 1950. Alguma dúvida, agora, de que pioramos 1950. Antes, a história registrava 1 Barbosa. Agora, é uma delegação inteira de Barbosa. E Felipão Barbosa vem a público pedir desculpas e assumir o erro. Ora, que erro¿ E se houve erro e consciência desse erro, por que nosso time, perdendo por 5x0, não passou por alterações nos 45 minutos iniciais¿ Ou estou enganado quando vi Felipão tirar Neymar, contra Camarões, a menos de 15 minutos do segundo tempo¿ Sim, ele faz alterações quando necessário. Só não fez quando o leite derramou. Fique, Felipão, com suas desculpas para ti, seu fraco e péssimo!

Que me chamem de pessimista, sim, pois quando arrisquei palpites em bolões não coloquei o Brasil sequer como finalista nessa Copa. Estranhei termos passado das Oitavas, com a sorte de pegar um Chile apenas razoável. Nas quartas, passamos pela Colômbia, outro Sul-americano azarão. Opa, impressão minha ou só pegamos latino-americanos azarões¿ Vencemos a Croácia no mais árduo combate da Primeira Fase, depois de sairmos em desvantagem no placar. Depois, só babas, e ainda assim tropeçando para não passar carão antes da hora.

A hora da vergonha chegou na véspera da festa. Quem viu aos jogos mais decisivos desse Mundial sabe que a Argélia é muito mais time do que o Brasil. Os argelinos foram os únicos adversários que enfrentaram a Alemanha em condições de igualdade. Tudo bem, a França também foi osso duro de roer. Mas, a Argélia chegou a ameaçar a classificação alemã, não fosse o excelente goleiro Neurer. Na etapa complementar os argelinos estavam com cãibras, mas nem por isso deixavam de marcar a Alemanha no campo dela e, na primeira oportunidade, finalizar. Perderam por suados 2x1, com os jogadores alemães, após o apito final, deitados ao chão e, em vez de comemorar, esticando os nervos das pernas, tamanho o sufoco sofrido.

Nessa semifinal o Brasil de Felipão perderia com Neymar e Tiago Silva. De repente, outro 2x1 a favor da Alemanha, mas bola por bola, o futebol agradece que os alemães estejam na final. O forte sistema de marcação pelo meio de campo impediu que a bola chegasse aos atacantes brasileiros. Em contrapartida, o fraco meio de campo do Brasil deu folga e excesso de liberdade ao setor de criação da Alemanha, cujo ataque chegava a todo momento nas costas da confusa linha de zaga brasileira. Coloquemos as três defesas de Júlio César no jogo e entendamos que poderíamos ter perdido por 10x1.

Nada tenho contra os argentinos e, na prática, só não os quero passando fome. Mas, nessa de o futebol agradecer, a Holanda é mais seleção para enfrentar a Alemanha. Se a Argentina passar amanhã, antecipem o Oktober Fest. E se der Alemanha x Holanda, preparemo-nos para ver a melhor final de Copa da história. Duas seleções que jogam um futebol pragmático, às vezes chato, porém muito eficiente. Igual ao Brasil que papou os títulos de 1994 e 2002 sem ter um futebol brilhante. Ou alguém vai me dizer que o Bayern, hoje, tem o mais belo futebol do mundo¿

Desisto de falar mais da Seleção, pois é chover no molhado. Cada um tem sua opinião sobre o desastre de 90 minutos. Minha opinião, que está acima, advém de um ano e meio de angústia de ver um técnico limitado assumir a Seleção. Mano Menezes também é limitado, mas não perderia por 7x1. Pelo contrário, tanto ele quanto Tite ou Murici Ramalho armariam uma Seleção fechada contra a Alemanha. Se não tomássemos gol, hoje, o mínimo que ocorreria seria levar a decisão para as penalidades, já que nosso meio de campo é imaturo e nosso ataque sempre teve Fred, o poste. Teria muito a falar sobre essa entrada forçada de Fernandinho, que foi o jogador que mais falhou nessa terça-feira. Seria igualmente em vão, pois a carniça estaria a ser chutada.

Dias atrás vimos a Holanda surpreender o mundo ao trocar de goleiros para, após uma densa prorrogação, decidir vaga nas penalidades. Naquele momento, a troca significou os imprecisos 50% de chance de dar certo, 50% de chance de dar errado. Felipão, contra a Alemanha, foi 100% de passividade sobre a superioridade adversária. Quando acordou, já tinha entrado para a história. E da pior forma possível. Logo, guarde para sua biografia, Felipão, o lamento pelo selo de incompetência total.

*Professor universitário, historiador e jornalista, é mestre e doutorando em Ciências da Comunicação pela ECA-USP.