sexta-feira, 6 de junho de 2014

E bendita seja a informalidade: internet no meu computador

Cláudio Messias*

Confesso ter dúvidas sobre a plena licitude do processo, mas, igualmente, reconheço que a solução de um problema de comunicação aconteceu fora da hegemonia das empresas de telecomunicações. Explico.

Estou mudando de apartamento aqui, em Campina Grande. Na realidade, mudando de prédio. E, para ser mais preciso, trocando de região da cidade. Saio do Monte Santo e vou para o Bodocongó. Do centro para a região Oeste da cidade que faz o Maior São João do Mundo, que começa nessa sexta, por sinal.

No prédio onde estou temos internet coletiva, da GVT. Para o prédio onde vou, não há esse serviço. E isso significa chegar ao novo lar, em plena véspera de feriado, sem acesso à rede mundial. Um caos para quem tem nesse canal o principal elo de diálogo com a família, a 2.800 km de distância.

Durante a semana, já com a mudança planejada, fui atrás de algumas opções muito usadas por amigos, principalmente da universidade. Um modem, conectado ao notebook, facilita até que um desses combos da GVT e da Claro da vida sejam assinados e levem internet e TV para o lar.

Como adquiri aparelho e chip da Tim, busquei a contratação do serviço de internet móvel da operadora. Primeiro, na loja onde comprei o aparelho. Depois, diretamente na loja da Tim. Não deu certo, pois a condição é para que o pagamento seja feito via cartão de crédito, tipo de serviço que não disponho aqui, na agência do banco estatal federal com que trabalho.

A principal opção daqui, de Campina Grande, é a Claro. Saí, logo cedo, atrás da loja da operadora, que ficam bem distante de onde resido. No caminho, passo pela Praça da Bandeira, bem no centrão da cidade. E eis que um ambulante me oferece exatamente o modem que procuro, da Claro. Na loja, o aparelho sai por R$ 130. Na informalidade, por R$ 80. Basta, nos dizeres do vendedor, comprar um chip, dele mesmo, e fazer a habilitação via aparelho celular. Feito isso, colocar crédito e 'espetar' no computador para acessar internet a R$ 1,99 por dia.

Desde que cheguei em Campina Grande alertam-me de que esse centrão da cidade, nos arredores da Praça da Bandeira, é perigoso ao extremo e que não se deve comprar nada de ambulantes, devido ao risco de recepção de produtos furtados. Daí a minha resistência por adquirir o modem e o chip. Mas, bastaram minutos de conversa para conferir que a mercadoria, se fosse falsificada, seria perfeita, pois todos os produtos conferiam com o que vi nas lojas.

O ambulante fez a habilitação do chip da Claro na minha frente. Paguei R$ 10 pelo chip da operadora. Durante o processo de habilitação, tudo normal, dentro dos parâmetros da operadora. Saí dali, passei em uma loja, coloquei R$ 18 em crédito para fazer o teste e voltei para casa. Aqui, espetei o modem no computador, segui os passos orientado pela central da Claro e coloquei minha linha para funcionar. Em resumo, sou um dos mais novos clientes Claro, gostei demais da velocidade da internet (mais rápida do que a GVT oferece no prédio atual) e não ficarei sem internet no final de semana, podendo dialogar com minha família em Assis.

É nesses momentos que questiono a burocracia e o excesso de formalidades. A dona Tim perdeu duplamente um cliente, pois os dois chips que adquiri da operadora na semana terão, dentro da política de portabilidade, os números transferidos para outra operadora concorrente. E tão cedo não quero graça com o serviço de internet Tim.

Só o tempo dirá se fui enganado pelo ambulante da Praça da Bandeira. Se fui, cancelo tudo e recorro à formalidade para habilitar meus serviços telefônico e de internet pela Claro, uma vez que não consinto com tramoias e fraudes. De uma coisa, contudo, eu não tenho dúvidas. Um visivelmente pouco instruído vendedor ambulante, que ganha o pão debaixo de sol e chuva, em pé, sem o conforto de uniformes padronizados e o clima de ar condicionado, foi muito mais competente do que um grupo de moças apenas bonitas que ficam, assalariadas, atrás de balcões repetindo regras que mais excluem do que incluem.

A habilitação do modem foi concluída no computador
e a internet começou a operar imediatamente


*Professor universitário e historiador, é mestre e doutorando em Ciências da Comunicação pela ECA/USP.

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