segunda-feira, 20 de janeiro de 2014

VIDA QUE SEGUE - Viagem de seo Messias a Barbosa Ferraz/PR

VIDA QUE SEGUE - Quando adolescente, meu pai, José Messias, nessas divisões da base familiar propiciadas pela morte do patriarca e a indesejada chegada da figura do padrasto, recebeu os cuidados de meu tio Eurico Messias, recém-casado com minha tia Nica. Irmão mais velho cuidando do irmão mais novo. Meu tio Eurico é um dos desbravadores da hoje rica região agrícola e de pecuária de Barbosa Ferraz, próximo a Campo Mourão, no centro-oeste do Paraná. Daquele grupo de colonizadores capitaneado por Nasário Oliveira foi, por exemplo, fundada a vila rural Tereza Breda, que fica a 4 km da propriedade onde o casal Eurico e Nica construiu uma vida de muito trabalho. No final de 2013, um AVC abalou a aroeira chamada Eurico Messias, semelhante ao que em 2010 igualmente afetou a aroeira chamada José Messias. Sexta-feira passada, 17, levamos um irmão aroeira para visitar o outro irmão aroeira. Meu pai havia teorizado, pós-2010, que nunca mais iria para o sítio do irmão, em Barbosa Ferraz, fragilizado que ficou. Mas, voltou, para reencontrar o irmão. Na manhã do sábado, 18, já no sítio, meu pai negou ao convite de subir alguns metros estrada acima, nas proximidades da mangueira onde meu primo, Marcos Messias, fazia a ordenha do gado leiteiro. Eu subiria para buscar mangas rosa e espada, morro acima, lugar de difícil acesso, dada a geografia íngrime do terreno naquela região toda. Seo Messias, na última hora, pediu para esperar, pois trocaria o calçado e nos acompanharia, juntando-se à companhia de Rozana e Ângela Messias. Subiu conosco até a 'esquina' da estrada, nas proximidades do curral. Vendo-me seguir para os pés de manga, disse que subiria até uma altura estrada acima, atrás de uma sombra que ficava dali a uns 50 metros. Devagar, subimos sob sol de 10 horas da manhã. Chegamos à sombra e encontrei uma pedra, aconselhando meu pai a esperar-me ali, com Rozana e Ângela. Quando passei a cerca de arame ouvi o pedido para esperar. Era o velho, dizendo que terminaria a subida e chegaria às mangueiras, no pico do morro, comigo. Devagar, caminhamos e, pegando na conversa, nem vimos chegar o pico. Lá, seo Messias chupou uma manga rosa que caíra durante a noite. Todas as mangas caídas estavam no 'ponto', doces feito mel. Aos 43 anos de idade, na beira dos 44, aprendi mais uma manha com meu pai: limpar as mãos, sujas com o caldo da manga, no verso das folhas da própria mangueira. Mais áspera, essa parte da folha absorve o líquido e deixa as mãos limpas, menos grudentas. Em seguida, Rozana e Ângela chegaram, levando camisa de manga longa para proteger a frágil pele de meu pai, pois o sol escaldava, e água para completar a lavagem das mãos. Chupar aquela manga e avistar o vale lá de cima foi, para meu pai, uma vitória. Para quem achou, e com razão, que talvez não voltasse a Barbosa Ferraz, voltar àquele morro foi a comprovação de sua superação. E no ano em que completa 73 anos meu pai continua mais vivo do que nunca. Daí minha eterna gratidão a Nossa Senhora de Fátima, que agora recebe meus pedidos pela saúde de meu tio Eurico, um homem que, igual a meu pai, calejou as mãos na construção de uma instituição que é a mais valiosa de todas: a família.

Seo Messias chega à 'esquina' entre a estrada e o 
acesso ao sítio... e descansa à sombra da Santa Bárbara


Aqui, nossa foto com a vista, ao 
fundo, do vale na Água da Mutuca

Nessa foto, o detalhe de quão íngrime é o morro 
onde ficam os pés de manga, que podem ser 
avistados ao fundo, atrás de meu chapéu

Seo Messias venceu, primeiro, o medo que desenvolveu 
de vaca, indo comigo até o curral do sítio

Aqui, o início da caminhada rumo ao topo do morro...

... percorrendo uma estrada feita para a passagem de trator...

.. repleta de cascalho mas com uma inclinação 
que força apenas razoavelmente o fôlego...

... fazendo com que qualquer um dê algumas 
paradas para restabelecer o físico.

Já no topo do morro, depois de chupar uma manga rosa.

Em foto mais aberta, os pés de manga, plantados em forma de "L".

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