segunda-feira, 25 de março de 2013

EU, DA POLTRONA Seleção devia no quantitativo, agora deve no qualitativo


25 Março 2013


Cláudio Messias*

As seleções de Brasil e Rússia entraram no gramado para reconhecimento, e lá estavam os russos se aquecendo. As duas seleções entraram oficialmente no gramado para a execução dos hinos, troca de flâmulas e escolha do cara-ou-coroa, e lá estavam os russos aquecendo. Execução dos dois hinos nacionais, brasileiros cantavam, russos aqueciam. Acertos finais do árbitro inglês e lá estavam os russos, aquecendo.

Começa o jogo e os russos saem atrás da bola com uma fome que surpreendeu a todos. Me fez lembrar aqueles desafios de boxe em ringues improvisados, em que um dos adversários parte para cima do outro no sufoco. A Seleção de Felipão mal conseguia ver a cor dos olhos dos adversários russos. Era pancada para todos os lados, e na bola. Tanto que o time mais faltoso trajava camisas amarelas. E a bola praticamente não saía da defesa brasileira nos 20 minutos iniciais.

Não, dessa vez não houve culpados. Claro, os russos não conseguiriam manter o mesmo ritmo por 90 minutos. Passada a primeira metade da etapa inicial os brasileiros já haviam compreendido os atalhos para sufocar a defesa russa e, assim, impedir que o avanço em blocos herméticos desestabilizasse o sistema tático que tanto deu certo contra a Itália. Mesmo assim, pela primeira vez a nossa Seleção encontrou um adversário com vigor físico compatível e frieza para esperar o momento certo de partir para o ataque.

O jogo dessa tarde de segunda-feira fez lembrar o jogo Assisense 0x3 Itararé, em 2004. Vínhamos de uma série invicta, atropelando a tudo e a todos pela Série B-2 do Campeonato Paulista. O Assisense era excessivamente técnico, além da média da última divisão do Paulista. E o Itararé vinha de um grupo que na primeira fase teve somente um time que se destacava: ele mesmo. Era o melhor do campeonato, seguido pelo Assisense. E aqui, em pleno Tonicão, o Assisense levou uma bordoada.

A Rússia de hoje foi o Itararé de 2004. Fazíamos mais faltas e quando derrubados nem falta era assinalada. Os russos são muito fortes. E vez em quando a força prevalece sobre a técnica. Recordemos a Espanha campeã da Europa antes da Copa de 2010. Enfiou 4x0 na Itália técnica, de toque refinado. O futebol espanhol não é dos mais bonitos, mas sobressai a partir de uma força físico-tática que destrói sistemas táticos do estilo 4-4-2, que necessariamente tem de passar para o 4-2-3-1.

Felipão voltou para o segundo tempo com a teimosia que lhe fez de técnico campeão do mundo em 2002 a técnico de rebaixamento em 2012: sem alterações. Quando mudou, colocou Hulk. Ótimo, eu também faria a mesma alteração, pois com Fred e Hulk na frente tínhamos condições de brigar, nem que fosse no braço, com a fortaleza russa. Neymar, não tem jeito, continuará fazendo portfólio para concorrer a algo na Fifa, nos finais de ano, contra Botafogo de Ribeirão Preto e outros nanicos. Quando encara as linhas de defesa europeias, o máximo que faz é tocar a bola para o lado ou, se houver brecha, comprovar o egoísmo que lhe é peculiar.

E por falar em Neymar, hoje, enfim, ele jogou em um estádio onde poderia estar pisando toda semana há pelo menos 3 anos. Foi na casa do Chelsea, que chegou a oferecer 37 milhões de euros pelo metrassexual magrelo brasileiro, que a bola rolou entre Brasil x Rússia, hoje. Neymar, que alguns semestre atrás era visto como ídolo em Londres, hoje foi vaiado em lances de simulação de falta recebida e cotovelos lançados nos rostos de seus marcadores. E, de novo, não fez absolutamente nada que ajudasse a reverter a situação permanentemente desfavorável ao Brasil nos 90 minutos.

O gol dos russos fez lembrar aquelas peladas entre Solteiros x Casados, Calouros x Veteranos ou, ainda Vida-que-segue x Vida Loka. Júlio César viu tanto a bola ir e vir que, zonzo, quando ela foi pra cima dele, ele pulou e quase gritou “joga sal que é sapo!”. Gostaria que o técnico russo mostrasse, na coletiva, nesses quadros que simulam as linhas do gramado, o sistema tático que, treinado, originou esse único gol de sua seleção. Para configurar o desespero russo pelo gol talvez, numa aproximação em zoom a imagem mostre, em algum canto, o goleiro deles dentro da área naquele momento do gol.

Mas, Felipão tinha uma carta na manga. Claro, a solução de todos os problemas estava na entrada do jogador sensação do momento. Diego Costa mandou Kaká para o lugar de onde ele nunca deveria ter saído: o banco. E esse “ele” a que me refiro não é só Kaká. É, também, Diego Costa. Afinal, de onde surgiu esse cara? Já perguntei a meu amigo Luiz Jünker, de Caxias do Sul, se o rapaz é frequentador de saunas por lá. Parece-nos que não. Tentei relacioná-lo ao sobrenome Marin ou Del Nero, mas também não encontrei nada. Família Costa é tradicional em Portugal, Felipão já treinou a seleção lusitana... bom, seja lá qual for a origem dessa convocação, que fique por aqui. Ou melhor, por lá mesmo, em Londres, pois por aqui nem mesmo a família Costa pode reconhecê-lo.

O impossível aconteceu no final e, convenhamos, foi um castigo para os russos. Eles chegaram com muito mais frequência ao gol de Júlio César do que nosso ataque em relação à defesa adversária. A comprovação da injustiça do resultado está na falta cobrada por Hernanes nas proximidades da grande área. David Luiz e todos os jogadores mais altos foram para a grande área, mas Hernanes, tal qual Neymar, quis fazer tudo sozinho, jogando a bola metros acima do gol russo. E quem construiu o lance dessa cobrança de falta? Hulk, que por mais 30 centímetro teria sofrido pênalti. Penalidade que, por sinal, seria disputada a tapa para a cobrança, pois parece-me que nem isso a Seleção de Felipão treina nem decide previamente.

Hulk, pelo mesmo lado esquerdo, foi ao fundo e, respirando por aparelhos, fez o cruzamento perfeito para Fred bocejar, ou melhor, grita “gol”. Centroavante é isso, ou seja, tem de estar lá no lugar certo, é perseguido pela bola e pode passar 90 minutos apagado para acender durante fração de segundos. Jeito à altura de definir esse futebol medíocre da Seleção, um grupo comandado por um técnico fraco, teimoso e que, na incoerência que lhe é peculiar, declara convocação de Ronaldinho Gaúcho, há algumas semanas descartado pelo baixo aproveitamento na oportunidade recebida e agora negociado para salvar um meio-de-campo que ora produz só durante 45 minutos, ora não produz nada durante 90 minutos.

Gostaria de ver com a mesma frequência dantes a cara do senhor José Maria Marin, o surrupiador de medalhas da Taça São Paulo. Na fase de degola de Mano Menezes esse senhor aparecia mais que o comandante do futebol, metendo o dedo onde não devia. Esse cidadão demitiu Mano sem motivo sólido e anunciou Felipão para comandar jogos contra Seleções de verdade. Hoje, o Felipão de Marin quase perdeu para a Rússia, que nunca disputou um título de Copa do Mundo. Minha expectativa, agora, é ver a Seleção de Felipão enfrentando a Argentina no tal do Super Clássico das Américas, confronto que pelo nome deveria ser disputado ou num sábado pela manhã ou no intervalo do Esporte Especular.

Não desmereço o futebol dessa Seleção que, reconheço, tem seus méritos. O que não entendo é o ponto em que o time de Felipão difere, para melhor, do time de Mano. Estamos às vésperas da Copa das Confederações e já surge o discurso de que o objetivo não é necessariamente o título, mas o entrosamento que leve a uma disputa, em 2014, pela condição de campeão em casa. Entrosamento por entrosamento, Mano Menezes recebeu da CBF a incumbência de promover a renovação do futebol brasileiro pós-Dunga. Os melhores jogadores do enredo nacional na atualidade surgiram com Mano: Oscar, David Luiz, Neymar, Lucas, Marcelo e Hulk. À exceção de Neymar, os demais eram anônimos na era Dunga e com Felipão continuam com o potencial limitado pela teimosia Felipiana de jogar na retranca e/ou segurar resultados. Não por acaso, Felipão sorriu, satisfeito, quando o árbitro encerrou o jogo de hoje.

*Professor universitário, historiador e jornalista, é mestre em Ciências da Comunicação pela ECA/USP.

quinta-feira, 21 de março de 2013

EU, DA POLTRONA Felipão quase rebaixou a Seleção no 2º tempo


21 Março 2013


Cláudio Messias*

Estranhei essa convocação de Felipão desde o início. Mas, na escalação do time titular contra a Itália, dei razão a ele. Tudo bem que aos 11 minutos Balotelli já havia desperdiçado uma chance de gol e Júlio César, nosso goleiro, feito duas defesas em lances que na época de Mano Menezes teríamos tomado o gol.

Brasil x Itália tem gosto de jenipapo na música do pato de Vinícius. Por mais que tentemos, encontramos ao menos um vulto de Paolo Rossi em campo. O inesquecível 1982. Nem a sofrida conquista do tetra sobre eles apagou da memória aquela eliminação na Copa do Mundo na Espanha. Sonhamos, ah como sonhamos, enfiar 4 x 0 na Azurra.

Quando era moleque eu deduzia que um jogo que virasse 2 x 0 terminaria 4 x 0. Quase nunca dava certo. Mas hoje bem que poderia ter dado certo. Nos vingaríamos da Itália em circunstâncias semelhantes às de 1982. O campo, suíço, era neutro. E, de um lado, Felipão dava favoritismo à Itália, que está entrosada há mais tempo. E do lado italiano, idem pro lado de cá.

Gostei demais da formação tática do Brasil no primeiro tempo. Felipão colocou o excelente Fernando para ser o cérebro que funciona no setor defensivo, dando rivotril a David Luiz. Dante, que quase comunica-se em libras, também deu segurança. Pelo meio, Hernanes dava uma beliscadinha no rivotril de David Luiz e as coisas funcionavam até certo ponto bem.

Do meio para a frente havia uma harmonia de troca de passes que, confesso, fazia tempos eu não via na seleção. Se esses caras realmente não treinaram escondido, então têm de ser convocados, chegar no dia do jogo, ganhar o uniforme de titular e entrar em campo. Não precisa nem fazer sauna.

O toque de bola da Seleção impressionou. E foi desse envolvimento sobre os italianos, com trocas rápidas de passes, que o cruzamento pela esquerda, perfeito, não foi interceptado pela artilharia antiaérea italiana, encontrando Fred que, em vez da canela, errou e acertou um bate-pronto no canto direito de Bufon.

Menos de dez minutos depois, lá estava o Brasil aproveitando a saída em linha dos italianos para o ataque. E no contra-ataque Neymar e Oscar, que protagonizavam as jogadas relâmpago do Brasil, dispararam, deixaram os zangões azurros pra trás e ampliaram para 2 x 0. O gol foi de Oscar, mas com mérito de Neymar.

Terminado o primeiro tempo ficou a sensação de que na base do contra-ataque mataríamos o jogo na etapa complementar. Ledo engano. Felipão mudou o sistema tático, mas n ão a equipe. Uma equipe que ataca caracterizada pela rapidez não recua taticamente sem que peças sejam mexidas. Sim, até David Luiz sem rivotril sabe disso. Felipão aprendeu isso hoje.

A Itália voltou com uma alteração formal. O Brasil retornou com 11 alterações informais. Ninguém segurava a bola, os italianos de novo desperdiçavam gols nos primeiros minutos e a sensação de um Brasil diferente foi minando. Da mesma forma que fizemos dois gols seguidos, a Itália empatou consecutivamente. Júlio César merecia falar para Chico Anysio, o Professor Raimundo, a célebre frase “mas, eu estava indo tão bem”. Goleiro que defendeu o que ele defendeu no jogo não pode ficar adiantado à frente da linha da pequena área, tendo o nojento Balotelli com a bola dominada, sem marcação por zona, na intermediária.

A partir de então a Seleção Brasileira começou a treinar. Não fez isso antes do jogo e deixou para fazê-lo durante o jogo. Parecia um rachão. Hulck, depois de passe açucarado de Neymar, teve a capacidade de deixar a bola e sair correndo sozinho, de frente para o gol, na melhor chance do segundo tempo. Esqueceu-se de que quem fez isso, com maestria, tinha as pernas tortas, jogava no Botafogo, respondia pelo nome de Garrincha e com um a diferença: os adversários iam, a bola ficava e ele, Garrincha, saía ileso do lance.

Felipão errou feio ao tirar Oscar. O menino era o pulmão do time, controlava os lances pelo meio e acionava com maestria Daniel Alves pela direita. O tal do Diego que entrou podia ter ficado nos vestiários que ninguém teria sequer notado. Kaká parece estar sob efeito de macumba. Alguém costurou as pregas dele na boca do sapo e jogou me algum canto de Milão. Não tem condições de ser titular. E questiono, já, inclusive, sua convocação. Reserva eterno de time por onde atua não pode ser titular na Seleção que não treina.

Gostei da entrada de Juan e de Marcelo. Os dois forçaram as jogadas pelas extremidades e foi de lá que as bolas, no final, chegaram a Neymar.

Me dá arrepios ver Felipão e Murtoza naquela conversa ao pé do ouvido. Fico com a sensação de que nessas condições sai um cochicho sobre “o empate não é tão ruim” ou que o auxiliar diz ao técnico para ficar tranquilo, pois derrota em amistoso não rebaixa a Seleção. Não rebaixa de divisão, mas, sim, em colocação, pois daqui a pouco estaremos disputando com nossos ex-adversários fracos da era Mano Menezes as respectivas colocações no ranking da Fifa.


* Professor universitário, historiador e jornalista, é mestre em Ciências da Comunicação pela ECA/USP.

Assis encerrou verão mais seco dos últimos anos


21 Março 2013


Cláudio Messias*

A garoa que está caracterizando o início do outono dá a falsa sensação de que está chovendo o bastante no Médio Vale do Paranapanema. O clima, ameno, ajuda a enganar ainda mais. Mas, ao menos aqui no Blog, não é de agora que estou alertando sobre a estiagem que afeta a região de Assis, bem como o fato de a temperatura ter ficado abaixo da médias, para o período, em relação aos últimos anos. E as estatísticas mostram que às 8h01m59s de ontem foi encerrado o verão mais seco dos últimos anos.

Uma demonstração de que a incidência de chuvas está insuficiente são os rios da região. Quem transita com frequência entre os estados de São Paulo e Paraná pela SP-333 vê que o nível do rio Paranapanema continua baixo. As margens recuaram 90 metros no segundo semestre do ano passado, chegando a baixar o nível da lâmina d´água em 3 metros. A explicação, na época, relacionava o fenômeno à abertura das comportas das usinas hidrelétricas de Canoas e Capivara, de modo a permitir vasão que abastecesse a bacia do rio Paraná e, assim, a usina de Itaipu.

O período de chuvas, na região, é iniciado em outubro. Dezembro, janeiro e fevereiro costumam registrar o ápice das precipitações pluviométricas. As tais chuvas de verão, contudo, não vieram no ritmo médio histórico. No biênio 2011/2012 os verões foram os mais secos das últimas décadas. E também fez menos calor do que o normal para a época. E o que é mais interessante, esse fenômeno tem atingido espécies de “ilhas” de incidência atípica. Assis e Palmital, por exemplo, distantes 30 quilômetros uma da outra, mostram desempenho totalmente diferente nos dados relacionados ao clima.

Na média anual de 2012 Assis registrou temperatura máxima de 36 graus, enquanto Palmital marcou quase dois graus a mais: 37,9. No acumulado de chuvas Assis teve, no ano passado inteiro, 225 milímetros e Palmital, 144 mm. Em estimativa mais recente, relacionada a janeiro passado, essa disparidade incide na realidade de chuvas em Assis e Cândido, distantes apenas 8 quilômetros. Choveu, em Assis, o equivalente a 97 mm, enquanto em Cândido Mota esse índice foi muito maior: 127 milímetros.

Mas é o comparativo dos três últimos verões que traz preocupação. Segundo dados do Centro Integrado de Informações Agrometeorológicas (CIIAGRO), órgão vinculado à Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo, de 740,1 milímetros de chuvas registradas no trimestre dezembro/janeiro/fevereiro, em 2010/11, a região de Assis caiu para 520,3 milímetros no trimestre que foi de dezembro de 2012 a fevereiro passado. O déficit de 220 milímetros equivale, por exemplo, a todo o acumulado de dezembro do ano passado. É como se não tivesse chovido o equivalente a um mês normal de chuvas no verão passado.

No cenário atual Assis encontra-se há 23 dias sem o registro de índice diário superior a 10 milímetros. No dia 17 de março o CIIAGRO definia como reposição de água necessária uma precipitação sequenciada de 28 milímetros. Isso coloca a condição de desenvolvimento vegetal em estado crítico, de maneira que, com reserva hídrica abaixo do necessário, as próximas culturas de inverno possam ter reflexo negativo na média geral de produção por hectare plantado.


CENÁRIO DAS CHUVAS EM ASSIS
Ano
Mês
Chuvas (mm)
2010
dez
174,5
2011
jan
352
2011
fev
213,6
740,1
2011
dez
117,7
2012
jan
336,4
2012
fev
98
552,1
2012
dez
225,7
2013
jan
97,8
2013
fev
196,8
520,3
Fonte: CIIAGRO


Ilustração: CIIAGRO
Percebe-se que a maior "ilha" de deficiência 
hídrica do solo começa, a sul, por Assis


Ilustração: CIIAGRO
A baixa reserva hídrica implica diretamente no 
comprometimento do desenvolvimento vegetal das culturas





*Professor universitário, historiador e jornalista, é mestre em Ciências da Comunicação pela ECA/USP.

quarta-feira, 20 de março de 2013

Assis acima da meta para a educação básica

20 Março 2013


Cláudio Messias*

Na primeira metade da década de 1980, portanto há 30 anos, a cidade de Assis começava a trocar o slogan de Cidade Fraternal para Cidade com Mais Qualidade de Vida. Muito mais do que investir em infraestrutura e saúde, o foco era injetar a totalidade dos recursos orçados para a educação. Devidamente educada uma população adota medidas de prevenção a doenças, cobra com racionalidade a resolução de problemas específicos, e não genéricos, de sua comunidade e proporciona desenvolvimento, e não somente crescimento a uma cidade como um todo.

O precursor de tudo isso, não canso de afirmar, é um político que já faz parte somente dos registros históricos, tendo nos deixado há quase dez anos. José Santilli Sobrinho era um político que me encantava. Jornalista que fui, na práxis, por 23 anos, jamais conheci uma figura pública como seo Zeca. O rabugento ex-deputado foi prefeito por duas vezes, mas é seu primeiro mandato que marca um gestão talvez única no interior não só de São Paulo, mas do país como um todo: fazer política de competência na educação, para, a médio prazo, atingir parâmetros que fundamentem a cidade na condição de desenvolvimento pleno.

Infelizmente, o principal responsável por esse projeto educacional complexo também já nos deixou, precocemente. José Luiz Guimarães faleceu há meia década, sem ver a consumação, em forma de estatísticas oficiais, dos números que comprovam a qualidade do ensino na cidade de Assis. Secretário da educação nas duas gestões de seo Zeca, Zé Luiz foi braço direito de Rose Neubauer, ex-secretária de Estado da Educação responsável pela municipalização do ensino público paulista. Percorreu Brasil afora para justificar as políticas públicas que descentralizavam a gestão da educação, então distribuída na ordem nação>estados>municípios. Motivo de críticas, é bem verdade, mas com a credencial de quem, em Assis, revolucionou a educação.

Hoje, passados quinze anos desde implantação da municipalização do ensino em Assis, os números positivos começam a aparecer. Não, não estou relacionando esses fatores positivos à municipalização, até porque sou reticente, ainda hoje, a esse processo neoliberal que atribuiu responsabilidades de mais aos municípios e competência de menos aos governos estaduais e federais. Se há resultados positivos, lá vêm Alckmin/Serra e Dilma/Lula querendo a paternidade do filho bonito. Mas se o resultado é negativo, a paternidade do filho feio é exclusividade das políticas municipais, tidas como ineficientes.

Mas a educação a que estou me referindo aqui, nesse texto, é relacionada às séries iniciais do ensino fundamental. O primeiro segmento do ensino fundamental, hoje com cinco anos, ganhou valor a partir de elementos simples, mas que fizeram a diferença quando vigoraram. Por exemplo, em vez de peruas os alunos das creches e escolas municipais de Assis passaram a ser transportados em ônibus. Todos uniformizados, esses alunos ainda eram alimentados com o mesmo cardápio, resultado da instalação de uma das primeiras cozinhas-piloto para a produção de merenda, controlada por nutricionistas, do interior paulista. Isso, lá em 1984. Hoje, ninguém entende isso como novidade, pois desde então praticamente todas as cidades fazem o mesmo, amparadas por distribuição de verba do Fundeb, que é o Fundo Nacional para o Desenvolvimento da Educação Básica.

As crianças que foram atendidas em creches naquele 1984 hoje têm, em média, 32 anos de idade. Interessante seria se uma pesquisa de iniciação científica na Unip ou no Ieda, especificamente nos dois cursos de Pedagogia da cidade, ou então uma pesquisa de mestrado ou doutorado, no programa de pós-graduação em Educação da Unesp/Marília focasse aquele público e monitorasse, hoje, o nível de formação daqueles primeiros alunos contemplados com política pública que valorizava a educação básica. Se esses sujeitos, hoje, são pais e mães de família, diplomados ou não no mercado, os professores já estão aposentados. Seria interessante observar o que cada parte tem a dizer sobre essas últimas três décadas.

Digo isso porque os números falam friamente sobre determinado fenômeno. Na condição de professor na rede oficial de ensino passei por escolas públicas em que testemunhei relações harmoniosas entre professores, alunos e funcionários, com organização escolar diferenciada, mas que jamais se destacaram em índices avaliativos como Enem, Saresp e Prova Brasil. Escolas como Léo Pizzato, em Assis, e Maria Aparecida Galharini dos Santos, em Maracaí, são dois exemplos disso. Hoje reencontro, na universidade, aqueles que foram meus alunos de ensino fundamental e médio nessas unidades escolares. E quando pergunto sobre os ex-colegas das referidas turmas recebo notícias de que número surpreendente deles também está na universidade. E na universidade pública.

Nessas horas questiono as políticas públicas e suas metodologias de avaliação de desempenho. A competência de formação, em conhecimento, em um cidadão está na suficiência de o mesmo inserir-se no ainda seleto universo dos cursos superiores. E depois de políticas de ação inclusiva como Bolsa Família, ProUni e Escola da Família a condição de concluir os cursos de graduação subsidiados. Escolas como a Galharini e o Léo Pizzato cumprem esse papel de formação não só mínima, mas, na minha opinião, acima da média. E, portanto, deveriam estar em condição mais privilegiada no ranking formalizado pelos governos.

Ora, se a Capes, quando avalia um programa de pós-graduação e atribui o conceito qualis – a média 2 consecutiva ou abaixo disso descredencia um programa -, considera o destino do pós-graduando depois da obtenção do título de especialista, mestre ou doutor, então por que o MEC não faz o mesmo com as escolas? Me refiro a um método em que o desempenho do estudante seja avaliado desde que ele adentre no ensino fundamental, avance pelo ensino médio, ingresse no ensino superior e, neste, passe pela formatura e/ou ingresso na pós-graduação. Uma escola cujo aluno formou-se no nono ano do e ensino fundamental, passou pelo ensino médio com tranquilidade, foi bem avaliado no Enem, graduou-se com boa avaliação no Enade, ingressou no mestrado e depois passou pelo doutorado não pode ser avaliada em condições de igualdade com outra escola cujos estudantes não tiveram esse perfil. Digo isso porque quanto mais alunos houver nessa condição de egressos vinculados a universidades, seja em graduação ou pós-graduação, mais estará comprovado que há escolas com gestores e professores com competência atípica para, muito mais do que ensinar, orientar para a vida.

Cito o exemplo de Maracaí. Na escola Galharini tive um grupo de 8 estudantes que, cursando os ensinos fundamental e médio, desenvolveram comigo o projeto Jornal D´Escola, um jornal impresso escolar que circulou por dois anos (2006/2007). Todos eles, hoje, estão concluindo ou já concluíram a faculdade. Cinco, em universidades públicas. E o que é mais interessante: optaram por cursos de licenciatura. Vão dar aulas em um momento de tantas críticas e demonização das condições que envolvem as salas de aula. Só para ganhar dinheiro e ter uma profissão? Claro que não. Não tenho dúvidas de que esses novos professores encantaram-se pela educação porque tiveram na escola uma extensão prazerosa de suas casas. Só isso, para mim, coloca a Galharini no topo de qualquer ranking avaliativo.

É de Maracaí que vem meu exemplo de orgulho. Jaqueline Tomazinho, uma estudante que já se destacava no ensino médio naquele ano de 2006, fazia de tudo na escola. Tinha festa junina, lá estava Jaqueline. Aos sábados uma equipe voluntária de alunos lavava a escola. Isso mesmo: alunos saíam de suas casas aos finais de semana e iam à escola para lavá-la. Não rompiam qualquer relação hierárquica ou de interação com as funcionárias da limpeza. Simplesmente, ajudavam a deixar a escola limpa para que a comunidade fosse recebida, aos finais de semana, pelos inúmeros projetos do Programa Escola da Família. Jaqueline começou a fazer Letras na Unip. Passado um ano, fez a prova para transferir-se à Unesp/Assis. E na Unesp, vinculada ao Centro de Línguas e Desenvolvimento de Professores, conseguiu um intercâmbio. Passou mais de seis meses na Espanha, estudando. Retornou há menos de dois meses, trazendo na bagagem, além de uma cultura renovada, a experiência de ter conhecido muitos outros países da Europa. E o que é melhor: sem gastar um centavo do próprio bolso.

Sim, raro e exceto leitor, a escola Galharini merece uma posição melhor nos rankings que os governos Alckmin e Dilma lançam anualmente. Afinal, políticas de investimento na base de formação trazem resultados. E são esses resultados que as pesquisas científicas precisam buscar, tornar públicas para a comunidade em geral. Jaqueline Tomazinho logo estará no mestrado, depois no doutorado, e será questão de tempo vê-la na sala de aula como docente. Não somente em Maracaí, onde ela já leciona, mas nas próprias salas de universidade. E uma escola com suficiência para formar futuros formadores de professores tem de ser justiçada melhor pelas políticas públicas.

Citei esses exemplos todos para voltar à política de investimento na educação básica que Assis experimentou 30 anos atrás. Um uniforme novinho, um ônibus para fazer o caminho casa/escola e comida quentinha no prato mudaram, não tenho dúvidas, conceitualmente a visão de escola para aquelas crianças, hoje adultos. Aquilo que antes era novidade hoje é comum, previsto como obrigação pelas políticas públicas. Mas, um dia alguém pensou isso antes, sem ser obrigado a tal. Se hoje um prefeito ou um secretário desviarem ou não investirem minimamente os recursos da educação correm o risco de perder o mandato ou mesmo ir presos, aqueles que fizeram isso sem obrigação alguma deveriam receber praça e monumento para que a cidade os eternize como donos de uma visão diferenciada.

Os dados que comprovam a melhora gradativa da educação em Assis são materializados em estatísticas do Ministério da Educação. O IDEB, que é o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica, começou a ser medido em 2005. Nele, o Ministério estabelece metas para que os municípios avancem para os parâmetros mínimos de qualidade do ensino, público ou privado. Assis, em 2005, começou com índice de 4,7, em uma escala de 0 a 10. Abaixo, portanto, da média mínima, que é 5.

O IDEB é lançado a cada dois anos. Para 2007, portanto, Assis tinha uma meta a atingir. E atingiu. A intenção inicial era que todos os municípios aos menos mantivessem a média de 2005, para, então, avançar. E Assis, dois anos depois, subiu para 5.0. Entrou, portanto, no grupo daquelas localidades com sinal verde para buscar mais recursos que implicassem em melhorias no ensino público básico ofertado. A meta para 2009, então, foi de 5.1. E Assis foi muito além disso, subindo para 5.8. Para 2001, o IDEB esperava 5.5 e Assis bateu a casa dos 6.1, um dos mais elevados índices do Estado em crescimento proporcional.

Não temos elementos científicos, de pesquisa, que nos mostrem a relação entre o trabalho iniciado em 1984, pela Prefeitura de Assis, e os índices atuais de desempenho das crianças que estão matriculadas nas séries iniciais do primeiro segmento do ensino fundamental, de 1º a 5º ano. Portanto, o mérito não é exclusivo de ninguém, nenhum político. De seo Zeca a Romeu Bolfarini, Carlos Nóbile a Ezio Spera, todos guardam, certamente, suas virtudes nesse processo gradativo. É fato, somente, que 2013 é mais um ano de avaliação pelo IDEB. Nossa meta, estabelecida em 2005, é de 5.7, mas esperamos, no mínimo, a comprovação de que estamos no caminho certo e que o avanço nos leva a um desempenho superior a 6.1.


RANKING DO IDEB NO MÉDIO VALE DO PARANAPANEMA**
Ideb Observado
Metas Projetadas
Município
2005
2007
2009
2011
2007
2009
2011
2013
2015
2017
2019
2021
ASSIS
4.7
5.0
5.8
6.1
4.7
5.1
5.5
5.7
6.0
6.2
6.5
6.7
CANDIDO MOTA
4.8
5.0
5.5
6.0
4.9
5.2
5.6
5.8
6.1
6.3
6.6
6.8
ECHAPORA
4.6
4.9
5.4
6.9
4.6
5.0
5.4
5.6
5.9
6.1
6.4
6.6
IBIRAREMA
4.4
4.7
5.2
4.6
4.9
5.2
5.4
5.7
5.9
6.2
LUTECIA
4.5
4.7
5.1
5.2
4.6
4.9
5.3
5.5
5.8
6.1
6.3
6.6
MARACAI
4.8
5.1
5.4
6.0
4.9
5.2
5.6
5.8
6.1
6.3
6.6
6.8
OSCAR BRESSANE
5.7
5.8
6.9
6.1
5.8
6.0
6.4
6.6




PALMITAL
4.5
4.8
5.2
5.6
4.5
4.9
5.3
5.5
5.8
6.1
6.3
6.5
PARAGUACU PAULISTA
4.7
4.9
5.7
6.0
4.8
5.1
5.5
5.8
6.0
6.3
6.5
6.7
PEDRINHAS PAULISTA
5.1
6.4
5.5
5.8
5.2
5.5
5.8
6.1
6.3
6.6
6.8
7.0
PLATINA
3.7
4.6
5.1
5.6
3.7
4.1
4.5
4.8
5.1
5.3
5.6
5.9
QUATA
4.8
5.4
6.2
5.8
4.9
5.2
5.6
5.8
6.1
6.3
6.5
6.8
RANCHARIA
4.6
5.0
5.5
6.2
4.6
5.0
5.4
5.6
5.9
6.1
6.4
6.6
TARUMA
4.3
4.6
5.1
5.7
4.3
4.7
5.1
5.3
5.6
5.9
6.1
6.4
Fonte: IDEB/MEC
** Os municípios de Cruzália e Florínea não aparecem na lista divulgada pelo MEC.



RANKING DAS ESCOLAS MUNICIPAIS DE ASSIS
Ideb Observado
Metas Projetadas
Escola
2005
2007
2009
2011
2007
2009
2011
2013
2015
2017
2019
2021
ALIDES CELESTE RAZABONI CARPENTIER PROFA EMEIF
5.5
5.9
5.8
6.0
6.3
6.5
6.7
6.9
ANGELICA AMORIM PEREIRA DONA YAYA PROFA EMEIF
5.6
5.5
7.1
5.8
6.1
6.3
6.5
6.7
6.9
7.1
DARCY RIBEIRO PROF EMEIF
4.6
4.9
5.6
5.9
4.7
5.0
5.4
5.7
5.9
6.2
6.4
6.7
EMEIF PROFª CORALY JULIA GONCALVES CARNEIRO
5.4
5.7
5.9
6.2
6.4
6.7
FIRMINO LEANDRO PROF EMEIF
4.6
5.7
6.7
7.2
4.6
5.0
5.4
5.6
5.9
6.1
6.4
6.6
GUIOMAR NAMO DE MELLO PROFA EMEIF
4.6
5.3
5.9
6.2
4.7
5.0
5.4
5.7
5.9
6.2
6.4
6.7
HENRIQUE ZOLLNER NETO PROF EMEIF
4.4
5.0
6.9
6.4
4.4
4.8
5.2
5.4
5.7
6.0
6.2
6.5
JOAO DE CASTRO PROF EMEIF
3.9
4.8
6.2
5.6
4.0
4.3
4.7
5.0
5.3
5.6
5.8
6.1
JOAO LEAO DE CARVALHO PROF EMEIF
3.7
4.2
4.3
5.0
3.8
4.1
4.6
4.8
5.1
5.4
5.7
6.0
JOAO LUIZ GALVAO RIBEIRO PROF EMEIF
3.6
4.1
5.0
5.1
3.7
4.0
4.4
4.7
5.0
5.3
5.6
5.9
JOAO MENDES JUNIOR DR EMEF
5.6
5.8
6.3
6.4
5.6
5.9
6.3
6.5
6.7
6.9
7.1
7.3
LUCAS THOMAS MENK EMEIF
5.5
5.3
6.4
6.6
5.5
5.8
6.2
6.4
6.6
6.8
7.0
7.2
MAFALDA SALOTTI BARTHOLOMEI PROFA EMEIF
4.5
2.4
4.5
5.9
4.6
4.9
5.3
5.6
5.8
6.1
6.3
6.6
MANOEL SIMOES PROF EMEIF
5.0
5.2
6.3
6.6
5.1
5.4
5.8
6.0
6.3
6.5
6.7
7.0
MARIA AMELIA DE CASTRO BURALI PROFA EMEIF
4.9
4.9
5.4
6.2
5.0
5.3
5.7
5.9
6.2
6.4
6.6
6.9
MARIA CLELIA DE OLIVEIRA VALLIM PROFA EMEIF
5.1
5.4
5.4
6.4
5.2
5.5
5.9
6.1
6.3
6.6
6.8
7.0
MARIA JOSE DA SILVA VALVERDE PROFA EMEIF
4.7
5.6
6.2
6.4
4.7
5.1
5.5
5.7
6.0
6.2
6.5
6.7
NISIA MERCADANTE DO CANTO ANDRADE EMEIF
4.6
4.4
5.7
5.6
4.6
4.9
5.3
5.6
5.9
6.1
6.4
6.6
Fonte: IDEB/MEC





Atualização 1 - 15h55: Alguns raros e excetos leitores cobraram que as tabelas relacionadas ao desempenho de municípios no IDEB/MEC contemplassem, igualmente, as localidades que, aqui no Blog, costumo relacionar quando o assunto são os preços de combustíveis ou os índices de chuva. São amigos, colegas, conhecidos ou simplesmente internautas querendo saber os índices de Marília, Presidente Prudente e Ourinhos. Os dados estão abaixo:




RANKING DA REGIÃO OESTE
Descrição: http://ideb.inep.gov.br/resultado/a4j/g/3_3_3.CR1images/spacer.gif
Ideb Observado
Metas Projetadas
Município
2005
2007
2009
2011
2007
2009
2011
2013
2015
2017
2019
2021
ASSIS
4.7
5.0
5.8
6.1
4.7
5.1
5.5
5.7
6.0
6.2
6.5
6.7
MARILIA
5.4
5.6
6.4
6.4
5.4
5.7
6.1
6.3
6.6
6.8
7.0
7.2
OURINHOS
4.8
5.0
5.6
5.3
4.9
5.2
5.6
5.8
6.1
6.3
6.6
6.8
PRESIDENTE PRUDENTE
4.9
5.4
5.2
5.1
5.4
5.6
5.9
6.1
6.4
6.6
Fonte: IDEB/MEC






*Professor universitário, historiador e jornalista, é mestre em Ciências da Comunicação pela ECA/USP.