quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

Mitos e lendas urbanas de uma Assis secular


03 Janeiro 2012


Cláudio Messias*

Há algum tempo a cidade de Assis sofre com especulações que jamais se confirmam mas têm danos irreparáveis porque perduram por anos e, muitas vezes, são incorporadas pela cultura local. São mitos e lendas urbanas que misturam um pouco de saber popular com outro pouco de saber social e resultam em verdadeiros estardalhaços na vida de alguns personagens. Geralmente, são figuras bem sucedidas, daquelas cuja competência incomoda e abre brechas para maldizeres.

O plantio de boatos ou gestão (não autorizada) da vida de outrem não é exclusividade da nossa Sucupira do Vale. Mas aqui há requintes de crueldade em uma verborragia que, histórica, já trouxe muitos prejuízos à coletividade como um todo. Atitudes inexistentes, ações improcedentes e fatos jamais ocorridos ainda hoje ecoam como capítulos reais de nossa história recente, com direito a juras de “eu vi”, “eu estava lá” ou, então, “é a mais pura verdade”.

Cresci ouvindo dizer que Assis estava prestes a receber uma fábrica da Gessy Lever. Melhor, a Coca-Cola já teria um terreno na cidade. Ali pelos finais dos anos 1980 era a Garoto que se instalaria por aqui. A retórica do desfecho era sempre a mesma: a Usina Nova América impedia a vinda de outras indústrias para cá. Por quê? Para ter exclusividade na exploração da mão-de-obra barata.

Estreei no jornalismo impresso em 1993 com uma série de reportagens, depois de oito anos no radiojornalismo. Minha pauta como free-lance na Gazeta do Vale era a série Soja Ensaboada, ocasião em que sojicultores da região que haviam vendido ‘soja verde’ para um intermediário da Anderson Clayton o viram anoitecer mas não amanhecer no Médio Vale do Paranapanema. Naquela oportunidade mantive contato com representantes da Gessy Lever e soube que os interesses da multinacional por Assis eram historicamente os mesmos alicerçados em Ourinhos e em qualquer localidade: a matéria-prima vinda da agricultura, para abastecer unidades industriais já instaladas em outros grandes e médios centros próximos da capital São Paulo. Não havia, pois, projeto para uma fábrica por aqui.

Recordo-me de uma história de que na entrada de Tarumã haveria o esqueleto de uma estrutura para receber a linha industrial da Coca-Cola. E que os construtores teriam sido expulsos à base da bala, pois a fábrica absorveria a mão-de-obra da localidade que, por sinal, ainda era distrito de Assis. Depois da emancipação de Tarumã ouvi muitas versões sobre a tal estrutura. Uma delas dizia que tudo estava debaixo dos prédios onde foram erguidas a prefeitura e a câmara de vereadores.

Essas estórias, como ensinou-me a distinguir dona Penha, minha primeira professora no Clybas (segundo ela, estória vem do que não pode ser confirmado e história é fato oficial do passado), beiram o absurdo, mas há quem acredite, sustente e dê fé. Eu mesmo, aos quatro anos de idade, acreditava na história do lendário seo Acrízio, um ferroviário aposentado por invalidez, que morava na Santos Dumont e tinha apenas uma das pernas, pois a outra fora cortada em um acidente na linha férrea. Segundo ele, os primórdios da origem do Buracão remontam a uma espécie de formiga gigante, já extinta, cujos conjuntos habitacionais subterrâneos cederam como tempo e formaram aquela enorme cratera. No meu imaginário, essas formigas seriam pré-históricas e em vez de folhas, carregariam árvores inteiras para dentro das covas. Daí, claro, a explicação para aquele amontoado de raízes e troncos de árvores que predominava no cenário fétido e de lama do Buracão.

A origem do Buracão é conto contemporâneo aos esforços para a não vinda de indústrias para Assis. Preferiu-se ignorar a não vocação regional para os ramos industriais especulados como potenciais interessados na nossa farta mão-de-obra. Desacreditar, por exemplo, que a única qualificação de mão-de-obra urbana local visava à ferrovia ou outros setores derivados. Basta lembrar etimologicamente (origem pela palavra) da Escola Industrial de Assis e seu curso de torneiro mecânico. Meu irmão mesmo, quando criança, dizia que quando crescesse iria “fazer roda de trem”. Claro, ele fez o curso técnico de torneiro mecânico. Hoje é sindicalista e tem graduações em Administração de Empresas e Direito.

A satanização em torno de ações inibidoras da instalação de indústrias em Assis perdeu força enquanto especulação recentemente. Para falar bem a verdade, perdeu foi o sentido. Com um projeto de formação e qualificação profissional que cobri em enquanto jornalista e, portanto, vi com esses olhos que a terra há de comer, a Nova América investiu pesado em educação nos anos 1990. Ao ponto de, depois, colher os frutos dessas ações de uma maneira que os negativistas do passado sequer se atreveram a comentar ou a transformar em especulação, mito ou lenda urbana. Experimentando a retomada dos estudos, a formação dos antigos primeiro e segundo graus e recebendo incentivos com bolsas de 50% para pagar a mensalidade de faculdades, os trabalhadores simplesmente não queriam mais cortar cana.

Na primeira década de 2000, iniciando a carreira de professor, dei aulas em Maracaí. E me surpreendi com a quantidade de maranhenses que vinham lá da parte de cima do país para, aqui, cortar a cana que não interessava mais a assisenses, maracaienses, tarumaenses. Encontrei com Ana Rosa, da Fundação Nova América, e ela me dizia que ônibus saíam daqui da região nas primeiras horas da madrugada, todos os dias, buscando trabalhadores rurais na região de Sertanópolis, no Paraná. Mão-de-obra de fora para completar a força de trabalho necessária para a safra de açúcar e álcool.

Poucos anos depois todos nós assistimos àquilo que na época do plantio dos boatos e das especulações neste texto já citados ninguém jamais imaginaria: a venda da Nova América. A maior indústria da história da região passou para o comando da Cosan, em um tipo de gestão que em nada se compara à política patriarcal com que a cidade e a região se acostumaram a conviver. E hoje, então, prevalece a pergunta: para que, pois, haveria tão inútil interesse pela hegemônica posse da mão-de-obra desqualificada que prevalecia por aqui trinta anos atrás?

Mais difícil ainda, talvez, seja aceitar que alguém realmente acreditava naquilo tudo, plantado em uma época em que eu ainda era criança. Imaturo, eu não entendia bem aquilo que se comentava nas conversas adultas sobre a blindagem para que outras indústrias não viessem buscar nossa mão-de-obra. Daquele tempo, mesmo, eu prefiro resgatar as lembranças do que era sério e começar a guardar um tempo para que, dia desses, consiga autorização para cavar arqueologicamente alguns metros no Buracão, atrás de ao menos uma carcaça das formigas gigantes.


FISCALIZAÇÃO ELETRÔNICA

DE VOLTA AO LIXO

Decidi hoje, depois de três semanas consecutivas em dúvida: vou continuar separando os materiais de nosso lixo doméstico, mas colocar tudo em um único saco plástico e disponibilizar para que a coleta da Prefeitura faça o recolhimento todo final de tarde.

DE VOLTA AO LIXO II

Desde a semana anterior ao Natal os catadores que passam às terças-feiras não recolhem todo o material que separo. Levam os sacos que contêm embalagens plásticas e latinhas de alumínio, mas deixam o resto. Resultado: dias e mais dias com as embalagens na calçada, até que veio uma chuva e levou tudo, Santos Dumont abaixo.

DE VOLTA AO LIXO III

Há meses, percebo, houve uma inversão: tenho certeza de que o lixeiro passará, e cada vez mais dúvida de que os coletores de materiais reciclados virão. E, nesse último caso, mesmo vindo, se levarão tudo o que separo.

NOVOS ARES

Com a divisão societária feita no semestre passado a Chácara Bela Vista agora está dividida em dois segmentos. As instalações com frente para a avenida Perimetral são especializadas em orquídeas. O setor de plantas e viveiro de mudas fica no mesmo complexo, porém com entrada pela rua paralela, à direita, onde foram construídos novos barracões. E conforto de observar e escolher plantas ao som de pássaros e perfume de flores continua o mesmo.

CRESCIMENTO

Enquanto muita gente espera o movimento de consultas ao SCPC para ter um parâmetro sobre eventual crescimento nas vendas do comércio de Assis no final de 2011, tem comerciante que tem as próprias planilhas e comemora resultados positivos. Meu amigo Vágner Stautt é um deles. As vendas foram 12,43% maiores se comparadas a 2010.

EXCEÇÃO

Stautt lembra que somente em um mês de 2011 não vendeu mais que igual período de 2010. Agregado a esses resultados estão investimentos em tecnologia, treinamento de funcionários e, claro, qualidade dos produtos comercializados.

BOM FILHO...

Minha amiga Alzimar Ramalho retorna a Assis depois de um ano de ausência. Ex-coordenadora do curso de Jornalismo da Fema, a jornalista e professora passou por Araras e hoje faz pós-doutorado na UnB, em Brasília.

FALHA

Leitor entra em férias do trabalho, e não das leituras cotidianas. Capítulo básico da cartilha do jornalismo vem sendo ignorado pela Folha de S. Paulo, que há duas semanas não publica as seções Mude! e audiência/Ibope, além do suplemento Tec. O puxão de orelhas da ombudsman do jornal não surtiu efeito.

GRÊMIO PRUDENTE

Reencontro casual com Antonio Carlos e a novidade: ele, juntamente com Adriano, ex-lateral do São Paulo, e um sócio anônimo, registrou o Grêmio Prudente para disputar a Série B do Campeonato Paulista em 2012. Virá a Assis enfrentar ou Assisense ou Vocem. Desta vez, longe da gestão da turma de Barueri.

PERGUNTINHA BÁSICA...

Há legalidade em guinchar um veículo estacionado por vencimento do cartão de zona azul em um local onde, sem aviso prévio, a cobrança foi iniciada antes de usuários serem devidamente comunicados?

PAREM O MUNDO PORQUE EU QUERO DESCER...

Pagar 11 reais de pedágio e ficar 30 km atrás de um caminhão indo para Londrina é o fim da picada.

* Jornalista, professor universitário e mestre em Ciências da Comunicação.

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